28 de março de 2024
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José Sarney – Ex-presidente da República

Nada mais discutível e passível de crítica do que a decisão de permitir a ocupação do mercado bancário brasileiro pelo capital estrangeiro.
O grande argumento do liberalismo, das leis do mercado, era a livre concorrência. Essa uma ideia velha, do século 18, que ganhou corpo no século passado. Acontece que, uma vez materializada, essa ideia levou à exploração selvagem do homem, determinando a reação do intervencionismo do Estado para evitar as distorções que levaram aos monopólios, oligopólios, à crueldade no sistema de trabalho.

A reação foi violenta e gerou mais de um século de revolta e revolução, as teorias de um Estado sem classes, as batalhas laboristas e o reformismo social tentando salvar o capitalismo.

Com o fracasso do intervencionismo, volta o capitalismo selvagem a toda a carga. Sua ideologia continua sendo o egoísmo, o lucro. O estatismo teve excesso e defeitos irreparáveis, mas o mercado sem controle é cruel, injusto e inaceitável. Sem efeito contraditório, mata a concorrência.
É uma falácia dizer que a presença de bancos estrangeiros em nossa economia é salutar porque ajuda a concorrência, diminui os custos e mais e tal. Ora, achar que coração de banqueiro estrangeiro é melhor que o dos brasileiros é simplesmente acreditar em lábias do lobo mau.

Os bancos brasileiros modernizaram-se, atravessaram grandes crises, estão deixando de ser empresas familiares para ser empresas de capital aberto, sujeitas aos olhos, à fiscalização e ao julgamento das autoridades, da imprensa, da opinião pública, e suas decisões são tomadas aqui. Alguém no Brasil pode desvendar o que ocorre na adoção de estratégias pelos bancos estrangeiros, linhas auxiliares das companhias globais, na City de Londres, em Wall Street ou Tóquio?

O Brasil entregou o maior prêmio do mundo, presente de casamento real, sem trocadilho, a um banco estrangeiro, o HSBC, o Bamerindus, funcionando, com milhões de depósitos, 1.300 filiais, assumindo passivos duvidosos e financiado pelo Banco Central. Quem daria esse patrimônio a um banco brasileiro? Depois, surgia o caso do Banco Real, e a invasão que se fez em bancos menores e as posições acionárias que se tomam asseguram que em breve será esse setor predominantemente de capital de fora, fixando prioridades, discriminando a empresa nacional, impondo a taxa de juros.

Como falar em concorrência? Um banco estrangeiro tem o custo do seu dinheiro a 5%; lá fora, os nacionais, a 38% e mais. Ninguém pode entrar nessa competição. Vêm oligopólio e uma política que necessariamente não é do nosso interesse. Leis de mercado não existem. Assim nem funcionam.

Bancos são permissionários do Estado. Há interesse nacional. A entrega de nosso mercado aos bancos estrangeiros é contra o interesse nacional. Não queria protestar protestando. Mas pedir pedindo, como dizia Vieira, a mudança dessa política ao governo.

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